Foto
de Zélia Siqueira
Se
olharmos detidamente, permitindo que o olhar desconstrua o modo como nos
acostumamos a olhar as coisas, nos deparamos com uma linguagem própria daquilo
que observamos, mas que poucos conseguem perceber. Sentimos a presença de
elementos, que compõem essa linguagem, num todo.
Um
fruto é composto de doçuras e acidez; cores e texturas; manchas e pequenas
linhas que, espaçadamente, criam espaços abertos ou se fecham em si mesmas. Conduzem-nos
a universos que dialogam com nosso espírito.
Hoje,
ao descascar um cajá, colhido ainda sem madurar por completo, me detive diante
de sua forma e de todo um conjunto que, ao observar, fez-me pensar que os
frutos têm uma ética própria. Uma ética da natureza.
A
casca era verde, mas a polpa, com veios esverdeados, já estava amarelada. Um
fruto, ao brotar, tem uma outra cor; até chegar nessa que os olhos alcançam. Um
amarelado ouro.
Diante
do dourado do cajá, com suas linhas e forma arredondada, penso no estágio de
transmutação dos frutos e da vida,
quando nasce e cresce. Quando alcançam cores que nossos olhos, ao observar, sentem
tocar o coração e o espírito.
Os
frutos passam por tons até alcançar a madurês, para alimentar os animais,
incluindo nós, os humanos. Cada cor tem uma função num fruto que nos alimenta e
nos fortalece. E as cores misturadas e vivas, trazem vitaminas que fortalecem o nosso corpo feminino, mas também o
masculino.
Portanto
essa ética da natureza é uma ética de inclusão. Ao contrário dos humanos, que centram
na sua individualidade e a destrói. Talvez os humanos devessem aprender com a
natureza. Esquecer o que aprendeu e reaprender junto com ela. Onde houvesse uma
transmutação no sentido de um todo; que alcançasse as cores que nossos olhos,
ao observar, deixassem tocar o coração e o espírito.
A
natureza esconde segredos nos frutos que alimentam o corpo, esteio da alma. E,
por outro lado, abre-se para quem dela se aproxima com reverência, respeito e
afeto.
A natureza
sou eu junto com ela. Quem esquece que esqueceu, nada sabe de si e, muito menos,
sobre ela.
Zélia Siqueira – formada em jornalismo e artes, é fotógrafa, escritora, poeta e pintora.
Bela crônica. Frutifera. Transmutar é ser. Ou poderia.
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