EXPOSIÇÃO





EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA DE ZÉLIA SIQUEIRA:

QUANTO VALE OU É EM PÓ


A Terra Desolada e o Homem de Prata



Essas fotografias podem ser classificadas em várias séries. A primeira é a série azul, que parece com algo abstrato e não natural. Gagarin já tinha notado que lá de cima a terra é azul. E essa terra azul, lembra algo como manifestações vulcânicas (há até uma foto que lembra a cratera de um vulcão). Mas essa terra azul não parece ser como algo destruidor. Ela é bela, essa terra e, sua cor, remete ao céu, à mediação, à paz, à meditação. Pode até lembrar a arte japonesa dos Jardins Zen.

A série dois é composta de cores azul-cinza e ocre; percorridas com linhas que podem lembrar uma rede hidrográfica. Nas duas fotos azul-cinza, há uma “mancha” de luz, que dá um efeito um pouco místico: a iluminação na redundância da vida (o cinza).

Na série três há um novo dado cromático. Estamos no preto-branco ou exatamente, no branco-prata com preto-azulado – uma superfície de um terreno que pode até lembrar a lua, como, aliás, o tom prateado. E há um homem (parece estar de costa) olhando para o fundo-noite, de um negror absoluto. O Homem nasceu da noite? E olha para ela, como sua mãe já indo embora?

Esse prateado associado ao homem, pode ser o despertar da consciência. Nota-se que “normalmente”, a consciência é de ouro e, uma consciência de prata é assim como ser o primeiro ministro e não o Rei. É ser Rei, porém por procuração. E o homem de uma certa maneira, é esse Rei (do segundo grau) da natureza. Por isso que ele representa um mais que pode ir contra a natureza, até provocando sua morte. É a cor negra como luto da natureza: o homem não é natural. O homem é um buraco na natureza. E esse buraco se chama espírito, (cultura).


Na série quatro, depois da “fase a negro”, que lembra o poema de T.S.Eliott, The desolate land, “A Terra Desolada” depois do luto, da desertificação. E, da noite do homem, o renascimento na vegetação e na cor, nas cores. Não são flores, são folhas. Algumas nítidas e outras turvas como se, nesse caso, houvesse ainda um espaço para o princípio de incerteza; de nossa compreensão do mundo. O céu apareceu agora e, não só a terra. Pode-se dizer que nessa última fase há como uma espiritualização; gaseificação (sublimação) e, se são folhas (árvores) que estão presentes ali, é que as árvores são as colunas que sustentam o céu.

A terra desolada não está mais aqui; ela soube se afastar de si, até da sua beleza erosiva, sua beleza “destroy” e abre no seu azul, uma porta que primeiro desemboca no preto-prata e depois no canto reencontrado da Terra: suas árvores e seu céu aberto.

Penso que uma exposição desse tipo de fotografias, mostra que essa arte, a fotografia, não é fadada a um realismo, tipo testemunho de alguma coisa, de alguma causa, mas pode muito bem aceder a uma visão do mundo, algo que não é mais da ordem do testemunhal ou da reportagem, mas algo que é da ordem de algo que é; de algo que está ali, auto-referencial. Como uma Chaleira de Cézanne ou um Girassol de Vah Gogh!
Zélia Siqueira tem o olho e olha só; se olha para você.
  


Gilbert Chaudanne, (pintor, escritor francês, radicado em Vitória,ES., crítico de arte) e curador da exposição.



                                                                                        











                                                                                           






































                                                                                               











                                                                             

                                                                                     







                                                                                                                                                                           

























                                                                                                   

























 














http://www.biblioteca.ufes.br/conteudo/exposicao-quanto-vale-ou-e-em-po








TICUMBI: Eu Sou o Rei



Em celebração ao dia da Consciência Negra, torna-se importante reafirmar o modo de resistência do povo negro, traduzido em seus festejos religiosos e culturais, que representam a memória de seus ancestrais. Uma herança herdada, de seus antepassados africanos. 


Em reconhecimento ao dia da Consciência Negra e à riqueza cultural do povo negro, para o estado do Espirito Santo, a UFES - Universidade Federal do Espírito Santo, decidiu pela permanência, neste mês de novembro, da exposição, TICUMBI: Eu Sou o Rei, na Biblioteca Central. A exposição é um pequeno recorte de algo maior, que simboliza  a cultura do povo do Sapê do Norte, e um modo de valorizar a cultura imaterial dos afrodescendentes, que deram sua grande contribuição ao desenvolvimento da cultura capixaba e brasileira.




Ticumbi de São Benedito de Conceição da Barra,ES.










A exposição, Ticumbi Eu Sou o Rei, volta à UFES - Universidade Federal do Espírito Santo, pela segunda vez, nesse mês de setembro de 2018, à  convite; para a 5ª Conf. Mundial  para Combate às Desigualdades Étnico-Raciais. 



                             
Ticumbi de São Benedito de Conceição da Barra,ES.
                                  











Exposição "Ticumbi: Eu Sou o Rei" de Zélia Siqueira - 
UFES – Universidade Federal do Espírito Santo - Na Primeira Conferência de Ações Afirmativas.

                                                                  

A exposição fotográfica, Ticumbi: Eu Sou o Rei, são retratos dos congos que compõem o Ticumbi de São Benedito, de Conceição da Barra,ES. Esses retratos foi um modo de eternizar e valorar essa expressão riquíssima da tradição cultural, de grande importância para o povo quilombola do Sapê do Norte e toda a comunidade negra, bem como para o Estado do Espírito Santo.

O Baile de Congo de São Benedito, representado pelo Ticumbi de São Benedito, é uma manifestação da ordem da religiosidade e resistência cultural, do povo quilombola do Sapê do Norte, o qual acompanho há mais de dez anos. Além de se ter uma dimensão simbólica e espiritual, tem também uma dimensão social para a comunidade, que mantêm suas crenças e costumes tradicionais.


Segundo a memória local, esse festejo ocorre há mais de duzentos anos, na região norte do Espírito Santo (Conceição da Barra), e seus integrantes o definem como uma tradição cultural de origem africana; recriada pelos africanos e seus descendentes, nas senzalas das fazendas escravocratas, nos quilombos e nas comunidades negras urbanas. É uma celebração festiva, onde dois reinados, de Congo e de Bamba, travam uma batalha para se ter a vitória sobre a festa para São Benedito. Festa essa que sempre o vitorioso é o Rei de Congo.

O Baile de Congo é uma sequência de discursos poéticos e políticos, danças e cantos, acompanhadas de pandeiro e viola. E tem um mestre como integrante. É composto por dezoito personagens vestidos de branco com coroas de flores coloridas sobre a cabeça; sendo dois reis, dois secretários, doze congos tocadores de pandeiros, um violeiro e um porta-bandeira. O mestre é o responsável pela gestão da festa, que vai da criação dos versos, da composição das canções e realização dos ensaios e do festejo, que ocorre sempre no final de dezembro e se estende até janeiro do ano seguinte.

                                                   
                             


 Zélia Siqueira - Fotógráfa, com formação em jornalismo e artes.



Fonte: Martins de Oliveira, Osvaldo Cultura Quilombola do Sapê do Norte. ELIMU/IPHAM. pgs. 34,40,41.



http://eventos.ufes.br/AcoesAfirmativas/index/pages/view/expositores%20feira%20cultural





TICUMBI: EU SOU O REI




Os negros no Brasil, sempre foram uns Reis que perderam suas coroas. E assim, a única saída para a pobreza extrema, a opressão extrema do homem pelo homem, como foi a escravidão, é o sonho. E sonho, quando você está na sarjeta, é o palacete. Posso viver num casebre oblíquo na beira da estrada, mas sabendo sonhar, me sabendo Senhor, Imperador, Rei. Porque o reino de todos os reinos é aquele que está dentro da gente. "O Sertão está dentro da gente" Guimarães Rosa.

No caso do Ticumbi, é o que acontece com um ingrediente a mais: a reminiscência de ter sido Rei lá na África; ou pelo menos dono de si, do seu próprio corpo, do seu próprio espírito. E a escravidão, que é o processo mais perverso que existe - uma verdadeira técnica de descartar o homem no homem, não conseguiu acabar com a realeza de ser homem. Isso é o verdadeiro milagre: ser homem é ser Rei. E todo homem é um Rei, se é realmente homem. O que é, infelizmente, da ordem da exceção, já que o homem cultiva mais o espírito de porco - ser Rei não é um poder, mas um "estado de espírito"; e o povo brasileiro, sobretudo o seu componente negro, tem ao grau mais alto esse senso da realeza como centro reificador, organizador. Não é por acaso que o Brasil se torna independente de uma maneira completamente original nas Américas. Não como república, mas como monarquia. E essa monarquia não foi artificial, ela corresponde a um desejo coletivo que continua até hoje: Rei Pelé, Rei Roberto Carlos, etc. E esse inconsciente coletivo nacional vê o mundo como uma pirâmide - estrutura hierárquica. O Rei é o cume que reifica; quer dizer, que faz significar o planeta Brasil. "Canudos" é o centro do caboclo e do negro.
A noção de chefe, de caudilho, que se multiplica no arquétipo do "Doutor", continua essa tradição de centros de poderes como pequenos Reis. "Sabe com quem está falando?" Bom, mas todo Rei tem uma coroa; mas o povo negro só pode ter uma coroa que não é de ouro. Mas esse povo achou melhor ter uma coroa de flores. E porque a coroa de flor é superior à coroa de ouro e pradarias? Por que as flores são a consciência se abrindo ao espaço de transcendência e, ao mesmo tempo, não perderam o contato com a terra mãe. Assim, a cabeça coroada de flores é ao mesmo tempo telúrico e celeste.

A roupa branca reforça essa celestialidade - pureza - "Os puros"; e o branco é a síntese de todas as cores. Só falta o arco-iris da Aliança do Branco celeste com as cores da terra. E esse arco-iris existe no Bumba-meu-Boi de São Luis, luxuoso; onde se usa plumas de pavão. Todo mundo sabe que na ponta da pena de pavão há uma estrutura que lembra o olho; e cujas cores são as do arco-iris: símbolo das bodas entre os deuses e os homens.

A coroa do Rei - de flores - pode ser considerada como o despertar da consciência. O Rei é consciência; ele é a cabeça, aquele que pensa o povo para seu bem; a cor branca da roupa com rendas significando paz e delicadeza. o Rei garante a civilização contra a selvageria.

Houve e há toda uma tendência de ver essas manifestações do Ticumbi como algo "folclórico". Ora, esse "folclore" é quase sinônimo de pitoresco; e o pitoresco é um Brasil para inglês ver e não um "Brasil-Brasil", que realmente se nutre de um conhecimento infuso, simbólico do mundo iniciático até.
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O Ticumbi é uma festa, uma cerimônia; e como tal chama a si forças que são da ordem do indizível. Os integrantes como no Bumba-meu-Boi, chamam de brincadeira, o que deixa uma interrogação no leigo. Mas não há nada mais sagrado que a brincadeira - como o Bumba-meu-Boi no Maranhão. "Brincar de Boi', dizia seu Bartolomeu do Boi do bairro de Fátima, em São Luis. Se lembra, do episódio no qual Santo Agostinho vê uma criança brincando na praia com a concha e que essa criança revelou-se como sendo o Senhor?

Pois bem, o espírito da seriedade é muitas vezes o espírito do enterro do próprio espírito. E a gravata nunca foi uma garantia de conhecimento. O fato de ser oprimido, torturado, fez com que o negro tivesse que se manter em pé dentro de si; já que não pode fazer isso fora; obrigado que ele era de dobrar o joelho diante dos Senhores de Engenho, do Café e dos padres. Dentro de si o negro estava em pé e assim reencontrava seus deuses. - porque os deuses ficam em pé e, assim, ajudado com a astúcia de alguns espíritos (Exu, talvez), eles continuavam cultuando seus deuses debaixo das barbas microbianas dos Senhores portugueses. E esses deuses do panteão negro, ao contrário do deus martirizado dos cristãos, são alegres, dançantes, exaltam o corpo no lugar de desprezá-lo, dançam o sentido das flores da terra e não identifica o alto grau espiritual com o martírio. Os negros sofreram demais na carne para ainda inventar uma religião de sofrimento. 

Quem realmente sofre muito no real, se é sadio do espírito, não faz desse sofrimento o paradigma cristalizado da existência. Ao contrário, consegue com dificuldade, porém consegue tecer um novo tecido que é um tecido de flores, de rendas; algo que é da ordem da leveza de ser e não do pesadume do sofrimento. Ninguém mata o Rei quando ele está dentro da gente. E o Rei é a honra de ser homem e não animal escravo. O milagre é que um sistema tão perverso como a escravidão não conseguiu matar o homem no homem; e isso nós o devemos aos 'Senhores Escravos", que conseguiram essa proeza: Ser Rei na força.

Não há como ficar satisfeito pelo fato que esse trauma da escravidão se transformou em cultura. Não é nada disso. È a cultura que impediu o sistema escravagista de matar o homem no homem. E esse senso de honra nós o devemos a manifestações como o Ticumbi - que não é folclore - mas ato de consciência; consciência em ato: somos homens-reis e ninguém vai tirar essa realeza. Pode tirar nossa vida, não pode tirar nossa realeza.

Gilbert Chaudanne, pintor francês, escritor e crítico literário radicado no Brasil e atualmente no Espírito Santo, foi o curador da exposição  Ticumbi de Conceição, de Zélia Siqueira.





Exposição fotográfica - Ticumbi de Conceição - de Zélia Siqueira




O que mais me impressionou nessas fotografias de Zélia Siqueira, além de todo o simbolismo das roupas e "enfeites" que analisei em outro texto, [no texto acima] é a beleza dos homens negros, muitas vezes já respeitáveis anciãos ou outros como belas crianças; os dois polos de quase ser e do quase não-ser e que tem algo em comum: o sorriso.

Os "brincantes" do Ticumbi de São Benedito, são para um artista plástico, pintor, fotógrafo, cineasta, antes de tudo uma beleza de forma incomum: os rostos falam sozinhos, sem o uso da palavra; porque eles são naturalmente nobres, Reis. Eles são Reis por dentro e essa realeza aflora justamente nas flores da coroa, mas também nesses rostos esculpidos pelo tempo, no caso dos anciãos ou então cheio de frescor do porvir, no caso daquelas crianças. E Zélia Siqueira mostra uma grande qualidade nessas fotografias: é que ela sabe olhar. Ela percebe o que é real nos dois sentidos: realidade e realeza; e o que é trivial ou "clichê". O seu olhar fotográfico cristaliza nessa conjunção de forças estratificadas pelo tempo da idade (os anciãos) ou pelo belo porvir liso daqueles rostos de crianças. E é impressionante notar, não sempre, mas em geral, a alegria dos "brincantes".

Zélia Siqueira trabalha com muita habilidade estética. O contraste dos belos rostos negros; (alguns mais claros) se opondo à roupa branca e aos "enfeites" multicores.

O que vale na fotografia é o olhar. A máquina fotográfica é apenas um super-olho - mas quem olha é quem fotografa - e a máquina não pode fazer milagre. O fotógrafo sim. Daí a importância, como no caso da Zélia, daquela que sabe ver. Isso a fotógrafa tem em comum com o pintor. Lá onde o cidadão comum vê apenas um rosto anatômico, uma rua topológica, uma festa "matuta", aquele ou aqueles que sabem olhar vêem muito mais o que ele está vendo. E a máquina fotográfica, longe de minimizar esse olhar, o explicita magnificamente; tendo esse poder de parar o tempo, de congelá-lo e torná-lo eternidade: a eternidade do momento. Mas para isso não basta pegar uma máquina fotográfica, há de ter um olhar humano; mais um olhar de consciência para parar o tempo, como Cartier Bresson ou Sebastião Salgado. 

O bom fotógrafo é aquele que é capaz de ver a eternidade embutida no tempo, que pode ser lama ou flores. E a fotógrafa Zélia Siqueira, faz isso com muita agudez do olhar. Ainda mais pelo tema escolhido que ajuda muito, já que o Ticumbi é uma manifestação de algo que é da ordem do sagrado. Esse mesmo sagrado que a artista soube captar nos rostos esculpidos dos anciãos e nos rostos deliciosamente lisos das crianças. As entidades não baixam em qualquer um.


Gilbert Chaudanne, pintor francês, escritor e crítico literário radicado no Brasil e atualmente no Espírito Santo, foi o curador da exposição Ticumbi de Conceição, de Zélia Siqueira.




























                                                                              



                                                                               




 













































                     






































Exposição coletiva - Fotografias de ZÉLIA SIQUEIRA, Rogério Medeiros e Caio Perim - Centro cultural Aldeia Três Palmeiras.












Exposição coletiva - Fotografias de ZÉLIA SIQUEIRA, Rogério Medeiros e Caio Perim - Centro cultural Aldeia Guarani Três Palmeiras,ES.








Exposição fotográfica de Zélia Siqueira: Quanto Vale ou é em Pó - Casa Aberta


6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Há alguns anos acompanho o excelente trabalho de Zélia Siqueira. Admiro boa parte de suas obras, principalmente as fotográficas, quando divulgadas, aqui e em outras plataformas.
    Ontem, no 14 de Julho, tive o prazer de ser recebido por Zélia em sua casa & atelier. Na oportunidade, tive o privilégio de percorrer uma verdadeira exposição de obras que foram sendo mostradas - uma vez desembaladas uma a uma - e comentadas pela própria artista. Assim, impecavelmente impressas e em tamanho grande, vi obras tanto daqueles já publicadas quanto outras tantas que não conhecia. Uma experiência estética e cultural para não se esquecer. Muito obrigado, Zélia Siqueira.

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  3. Obrigada a você, prof. Marcos Moraes pelo presença e comentários.

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  4. Zelia, Monsieur Gilbert Chaudanne, a dit beaucoup mieux que ce que je pourrais dire tout votre talent de photographe. Je ressens très profondément dans chacun de vos portraits. "Ce sacré que l'artiste a su capturer dans les visages sculptés des aînés et dans les visages délicieusement lisses des enfants". Je vous félicite Zélia. Votre sensibilté et votre "don" me touchent beaucoup.

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  5. Mireille Remusat, tes observations sur mes photographies sont toujours un honneur. Sa sensibilité à percevoir des subjectivités subtiles, que je tente d'exprimer dans ces images. Votre générosité envers moi et envers mon travail artistique indique que je suis sur le chemin et que je vais suivre, car c’est ce que j’ai accepté avec beaucoup d’affection et de volonté pour être le meilleur de moi. Mon travail a un lien direct avec mon histoire de vie; quelque chose qui était perdu et que je rachète dans les rencontres avec les quilombolas (noirs) dans leurs riches manifestations de religiosité et de résistance. Merci beaucoup.

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