Existem mulheres que viajam
o mundo, até depois dos oitenta anos de idade e pretendem chegar aos noventa, nessa
aventura de viver. Será que chego lá?
Às vezes me pego pensando se
chego a tanto, em minhas viagens de aventuras. A coluna já não colabora. Na
última viagem que fiz, fora do país, tive que trocar, meio a contragosto, a
mochila por uma bolsa de rodinha, que assemelhava a uma mochila. Mas confesso
que não me senti tão confortável quanto se imagina; ao contrário, senti foi
falta da minha velha companheira de vinte
e três anos de viagem, que continua muito linda e perfeita.
Alguém pode achar estranho quando digo isso. Mas é
verdade. Uma mochila é muito confortável, não se sente tanto o peso da bagagem, desde que as
astis sejam bem acolchoadas. E olha que minha mochila é quase do meu
tamanho. Mas o que importa mesmo é a
saúde, para continuar. O que é comum a um viageiro, ser dotado de um espírito
livre e de um vigor mental e físico invejável. Parece que já tem uma
pré-disposição à vida nômade, que lhe permite ir além do horizonte que limita o
homem comum.
Viajar é se aventurar para
além do seu entorno. Experienciar outros mundos possíveis. Outros cheiros,
outros sabores, outras histórias. Conhecer e romper limites. E, sobretudo, aprender e compreender o quão importante é a troca
e a solidariedade no caminho.
O imprevisível também nos
espreita. Só não podemos deixá-lo nos abater; pois se assemelhando às águias,
os viageiros são dotados de uma percepção ágil, e logo sabem como desviar a
pedra do caminho. As trocas no percurso, são imensas e, a cordialidade, nunca
está de toda ausente.
Os nômades viageiros, são como os pombos-correio, ao cruzarem seu caminho; trazem sempre as notícias
de lugares que você nunca alcançou. Te indicam lugares menos arriscados,
hospedagens mais confortáveis e ao alcance de seu bolso. Além de muitas vezes,
fazerem parte do percurso contigo. E quando alguém se acomete de algum mal
estar, sempre se disponibilizam para os cuidados necessários. Formamos elos
intransponíveis, até que se possa prosseguir, cada um o seu rumo. Muitas vezes partilhamos a mesma comida, o
mesmo quarto, mas todos em liberdade.
Foto de Zélia Siqueira
Foto de Zélia Siqueira
A última viagem será a mais notável aventura para outra
esfera. Nela partiremos sem o peso da
bagagem, porém levaremos a leveza da experienciação, em vida; quando se fez
sentido viver.
Zélia Siqueira – formada em jornalismo (FAESA) e artes (UFES), é fotógrafa, escritora, poeta e pintora.
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