terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Aventuras de uma nômade




Existem mulheres que viajam o mundo, até depois dos oitenta anos de idade e pretendem chegar aos noventa, nessa aventura de viver. Será que chego lá?






Às vezes me pego pensando se chego a tanto, em minhas viagens de aventuras. A coluna já não colabora. Na última viagem que fiz, fora do país, tive que trocar, meio a contragosto, a mochila por uma bolsa de rodinha, que assemelhava a uma mochila. Mas confesso que não me senti tão confortável quanto se imagina; ao contrário, senti foi falta da minha velha companheira de  vinte e três anos de viagem, que continua muito linda e perfeita.

Alguém pode achar estranho quando digo isso. Mas é verdade. Uma mochila é muito confortável, não se sente tanto o peso da bagagem, desde que as astis sejam bem acolchoadas. E olha que minha mochila é quase do meu tamanho.  Mas o que importa mesmo é a saúde, para continuar. O que é comum a um viageiro, ser dotado de um espírito livre e de um vigor mental e físico invejável. Parece que já tem uma pré-disposição à vida nômade, que lhe permite ir além do horizonte que limita o homem comum.

Viajar é se aventurar para além do seu entorno. Experienciar outros mundos possíveis. Outros cheiros, outros sabores, outras histórias. Conhecer e romper limites. E, sobretudo, aprender e compreender o quão importante é a troca e a solidariedade no caminho.

O imprevisível também nos espreita. Só não podemos deixá-lo nos abater; pois se assemelhando às águias, os viageiros são dotados de uma percepção ágil, e logo sabem como desviar a pedra do caminho. As trocas no percurso, são imensas e, a cordialidade, nunca está de toda ausente.

Os nômades viageiros, são como os pombos-correio, ao cruzarem seu caminho; trazem sempre as notícias de lugares que você nunca alcançou. Te indicam lugares menos arriscados, hospedagens mais confortáveis e ao alcance de seu bolso. Além de muitas vezes, fazerem parte do percurso contigo. E quando alguém se acomete de algum mal estar, sempre se disponibilizam para os cuidados necessários. Formamos elos intransponíveis, até que se possa prosseguir, cada um o seu rumo.  Muitas vezes partilhamos a mesma comida, o mesmo quarto, mas todos em liberdade.




                           Foto de Zélia Siqueira


A última viagem será a mais notável aventura para outra esfera.  Nela partiremos sem o peso da bagagem, porém levaremos a leveza da experienciação, em vida; quando se fez sentido viver.


Zélia Siqueira – formada em jornalismo (FAESA) e artes (UFES), é fotógrafa, escritora, poeta e pintora.







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