quinta-feira, 20 de julho de 2017

Jim Morrison and The Doors: a volta de dioniso


Na efervescência cultural dos anos 60 e 70 surgiram nos Estados Unidos e na Inglaterra, os grandes grupos musicais; a chamada pop music. Ponto de partida: Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan, Joan Baez, o rock e o blues e a pop music. Mas a pop music se caracteriza como uma espécie de sincretismo, incluindo até música indiana: naqueles anos, pois, por excelência da nova cultura (Grupo Mahavishnu Orchestra), reminiscências pagãs com (Abraxas de Carlos Santana). Havia uma espécie de despertar espiritual que não excluía o corpo, ao contrário, o sexo sendo adorado como na Índia (Ling Yoni).

O puritanismo cristão anglo-saxônico foi renegado e se abriu a uma nova era pagã. E entre todos esses grupos, havia um que realmente quebrou “as portas da percepção”; e seu nome era justamente The Doors, com seu líder carismático: Jim Morrison. Mas o que é que caracteriza The Doors em relação aos outros grupos: de certa maneira eles se afastam da música “flutuante” tipo Pink Floyd e outros grupos. Mas essa música “flutuante” não é totalmente ausente do The Doors, mas há como uma volta do rock, mas um “Rock de Ópera”, grandioso: o Hard rock; música que transborda como Wagner e Beethoven, arte dionisíaca do excesso, do demais.

Os Rolling Stones tinham uma música: “Sympathy For The Devil"; havia o grupo Uriah Heep. Tudo isso consagrado não tanto à volta do Diabo, mas à volta de Dioniso, deus grego da embriaguez, da orgia vital e do delírio. O Diabo é apenas Dioniso cristianizado, e no chamado espírito fáustico, de Goethe – no segundo Fausto – mostra que o Diabo é um construtor e que não se cria sem destruir, que não há vida sem o mal, que não há vida sem morte.

Dioniso pois; e não Jeová e o Diabo.

60 e 70 eram os anos da revolução sexual, onde o sexo era livre e não preso ao conhecimento e domado e amaldiçoado pela religião cristã. Nietzche: “O cristianismo não matou Eros, ele fez dele um vício”. A geração dos pais dos cabeludos tinha uma antiga hipocrisia em relação ao sexo: era algo sujo, mas eles transavam a doidado. E os cabeludos e alguns chefes de torcidas, como Jim Morrison, provocavam as autoridades americanas puritanas, hipócritas, enquanto o presidente Kennedy, símbolo da nação cristã, cometia o adultério com Marilyn Monroe.

Isso tudo lembra a esperança e a revolta de um mundo melhor do poeta Arthur Rimbaud, que um século antes já havia instaurado esse novo espírito com um novo corpo. Seu livro, “Uma Temporada no Inferno”, termina pela frase: “Possuir a verdade numa alma e num corpo”. Artaud também influenciou os cabeludos, por causa de ser o único escritor que realmente fala do corpo. A diferença é que o corpo dos cabeludos é, antes de tudo, erótico. Culto de Shiva: o falo – Dioniso. E Jim Morrison sabia seu corpo. Seu corpo falava, não só pela voz poderosa e não miada como os Beatles. Ele era uma pilha corporal espiritual; um Xamã que enfeitiçava o público. Não foi o único a ser assim, mas ele tinha uma presença sagrada na música, nas letras e no palco.

Jimi Hendrix, Janis Joplin, geração suicida: Eros Tanatos; mas que marcou definitivamente o espírito do mundo e de uma certa maneira, recriou as ligações entre ocidente e oriente. Espírito racional e espírito xamãnico.

Hoje o sistema ganhou, engoliu e comercializa qualquer revolta. Aliás, já The Doors e outros, foram absorvidos pelo mercado como produto; o que exasperou Jim Morrison, que morre de ataque cardíaco.

Não vou dizer que uma lição ficou; não vou dizer que os sobreviventes dessa geração continuam tão dionisíacos e desesperados, como Jim Morrison, diante dessa sociedade de cachorros conservadores; de homens ocos e unidimensionais (T.S. Eliot, Marcuse).

Abraço a todos os desesperados dionisíacos.


Gilbert Chaudanne - escritor, pintor, crítico de arte e de literatura.

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