Mestre Tertolino Balbino (Terto), em primeiro plano; seguido do contra-guia Berto e primeiro congo, Domingos(Pintinho).
Nas noites de quarta e quinta-feira, dessa semana que se finda, o Sesc Gloria, recebeu o glorioso Baile de Gongo de São Benedito, denominado Ticumbi de Mestre Terto (Tertolino Balbino), de Conceição da Barra; numa parceria inédita, onde prevaleceu a troca de saberes. O Ticumbi de São Benedito, emprestou seu brilho ao subir ao palco do teatro do Sesc Glória, juntamente com a Orquestra Sinfônica do Estado do Espírito Santo, sob a regência do maestro titular, Helder Trefzger.
A sensibilidade artística, do maestro Helder Trefzger, o potencializou para conceber esse projeto valioso, que traduziu nesse grande encontro de troca de saberes, importantíssimo para a cultura, e para reafirmar a potência afro-brasileira representada, imponentemente, no Baile de Congo de São Benedito dos pretos. Foi de uma emoção transbordante e uma alegria imensa de se ver o Ticumbi brilhar no palco do grande teatro, com uma estética do belo numa harmonia entre o erudito e o popular. Era a realeza negra, com suas cores negadas pelo homem branco; com suas coroas de flores emergindo na grande noite.
Tem toda razão o antropólogo e professor, Jefferson Gonçalves Correia, ao afirmar que, "a carga simbólica desse encontro é muito grande". Certamente, a sua grandeza se deve muito ao simbolismo presente nas tradições culturais e religiosas das comunidades afro-brasileiras, do Sapê do Norte; preservados graças ao empenho de grandes mestres do passado, que partiram para a eternidade e deixaram o seu legado. Legado esse que graças a sabedoria do também grande Mestre, Tertolino Balbino, que desde 1954, como guardião da dança e da tradição que rege o Ticumbi de São Benedito, juntamente com os demais congos, o mantém até os dias atuais.
O Baile de Congo de São Benedito, além de se ter uma dimensão simbólica espiritual, tem também uma dimensão social para a comunidade do Sapê do Norte, que carrega em si suas crenças e costumes tradicionais. Embora, equivocadamente, haja interpretações de que se trata do folclore capixaba. "Houve e há toda uma tendência de ver essas manifestações do Ticumbi como algo "folclórico". Ora, esse "folclore" é quase sinônimo de pitoresco; e o pitoresco é um Brasil para inglês ver e não um "Brasil-Brasil", que realmente se nutre de um conhecimento infuso, simbólico do mundo iniciático até." Observou, sabiamente, Gilbert Chaudanne, escritor, pintor e crítico literário. Por décadas o Ticumbi é um símbolo da religiosidade e da resistência cultural do povo quilombola do norte do Estado do Espírito Santo.
O Baile de Congo de São Benedito, além de se ter uma dimensão simbólica espiritual, tem também uma dimensão social para a comunidade do Sapê do Norte, que carrega em si suas crenças e costumes tradicionais. Embora, equivocadamente, haja interpretações de que se trata do folclore capixaba. "Houve e há toda uma tendência de ver essas manifestações do Ticumbi como algo "folclórico". Ora, esse "folclore" é quase sinônimo de pitoresco; e o pitoresco é um Brasil para inglês ver e não um "Brasil-Brasil", que realmente se nutre de um conhecimento infuso, simbólico do mundo iniciático até." Observou, sabiamente, Gilbert Chaudanne, escritor, pintor e crítico literário. Por décadas o Ticumbi é um símbolo da religiosidade e da resistência cultural do povo quilombola do norte do Estado do Espírito Santo.
Que fique decretado o enterro dessa expressão "folclore", para denominar uma manifestação da grandeza do Baile de Congo de São Benedito. "O Ticumbi é uma cerimônia [do sincretismo religioso], e como tal chama a si forças que são da ordem do indizível." Afirmou Gilbert Chaudanne.
E viva São Benedito, e viva o Bale de Congo e a Orquestra Sinfônica do Espírito Santo!
Zélia Siqueira – formada em jornalismo (FAESA) e artes (UFES), é fotógrafa, escritora, poeta e pintora.