Sempre que estou em São
Paulo, coisa que acontece com frequência, porque se tornou minha segunda morada, costumo ir ao “Bar Brahma”, bem na esquina da Ipiranga com a Avenida
São João. Ali, na esquina das duas grandes avenidas, coração e alma dessa cidade de concreto; dos tempos de efervescência política, imortalizada na belíssima música de
Caetano Veloso. Sampa, o fluxo dos acontecimentos se misturam às imagens e
memórias de sua história.
Tomar o chopp blake, no Bar Brahma - minha preferência nesses momentos – observando
a defluência dessas duas avenidas em seu curso continuo, misturando com seu
passado nos tempos de luta por redemocratização, quando a liberdade era
escassa; já não temos tanto o estribilho do poeta que cantava “Caminhando e
cantando e seguindo a canção”. Os tempos são bem diferentes. Mas a história
anda se repetindo por esses trópicos, conforme o filosofo, ao dizer que “a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.
As duas coisas andam acontecendo no pais tropical. Golpes e mais golpes.
Nas esquinas dessas duas
avenidas, além da bela choperia, bancos, cinema, lojas, há pobreza, miséria, “e pelos
campos há fome em grandes plantações", diz a canção dos anos sombrios.
Já não temos exército nas
ruas, mas a iminência anda pelos ares. Certeza que temos ruas com pedintes cada
vez mais crescente. Crianças fora de escola a espera do farol fechar, para pedir
esmola. Idosos abandonados, dormindo nos bancos da praça que leva o nome de República, mas a
coisa pública está cada vez mais privada.
Termino de tomar meu Chopp
Brahma Black. Sigo pela calçada até o metrô. Enquanto sigo até a estação, todas
aquelas imagens, que havia no começo, são desfeitas pelas imagens da dura realidade
deste país dos golpes, que vai deixando as ruas, não com multidão
reivindicando ou contra as mazelas sociais de nosso pais, mas com seus milhões de
famélicos, crianças sem lar, sem escola, idosos agonizando no chão frio de
inverno. Na Tv, diz a propaganda positivista do governo, o Brasil segue em “ordem e progresso”.
Mais uma olhada antes de descer
a escada do metrô. O poeta me convida a deixar essa vista em tempos de
barbarismo, dizendo: “Vem, vamos embora”. Os tempos são outros, mas que se
repetem.
Zélia Siqueira – formada em jornalismo (FAESA) e artes (UFES), é fotógrafa, escritora, poeta e pintora.
Zélia Siqueira – formada em jornalismo (FAESA) e artes (UFES), é fotógrafa, escritora, poeta e pintora.